Na coleção do Museu Quinta das Cruzes existem três obras do pintor Tomás de Anunciação (1818-1879). Uma “Feira de Gado” de 1861 e outras duas datadas de 1865, ano também de uma exposição internacional no Porto, onde Anunciação recebeu a medalha de honra. Ambos dispõem de vistas sobre a baía do Funchal, Oeste e Este, em que se apresenta uma cidade adormecida, por uma luz melancolicamente filtrada do azul celeste do céu, refletindo-se nos tons esbatidos de verde da paisagem. Mas é sobretudo no “Piquenique”, que os nossos olhos se fixam plenos de curiosidade.
Como fundo, uma extensa vista Oeste sobre o Funchal, a partir da Quinta do Palheiro Ferreiro, propriedade do Conde de Carvalhal, que o pintor representou com a família e alguns criados em primeiro plano, fazendo um piquenique ao ar livre. Uma internacionalidade que lhe fica bem, já que pugnara pelo ar livre, num paisagismo recortado de romantismo, atravessado por inspirações naturalizantes.
Lembremo-nos aqui de “Os cinco pintores em Sintra”, de Cristino da Silva, onde, e não por falta de oportunidade, se colocou Anunciação no centro da composição. Havia sido o porta-bandeira dessa pintura, que se pretendia em contacto direto com a natureza.
Tomás de Anunciação era a favor da prática da pintura no próprio campo, fugindo ao atelier. Procurava a construção de um espaço pictural naturalizado como nos diz José Augusto França (“A Arte em Portugal” no século XIX”, vol.1, Bertrand, Lisboa, p. 260).